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INSTITUTO DE ESTUDOS INDEPENDENTES

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A PEDRA DE TROPEÇO NA EDUCAÇÃO CRISTÃ HOJE

     Hoje não venho falar ou fundamentar sobre quem tem direito a educar seus filhos, se os pais ou o Estado, mas venho alertar sobre um mal silencioso e devastador que pode estar presente no seu lar.

     Observo algo muito simples e ao mesmo tempo complexo interferir na educação dos nossos filhos. A pedra de tropeço chama-se DISTRAÇÃO. Ela é tão avassaladora que o jovem não precisa chegar à universidade para entrar nas estatísticas dos desviados; muito antes disto, os pequenos já estão se afastando da vida cristã. Vi uma criança, de 10 anos de idade, esfriar o interesse vivo pela igreja quando, por influência de colegas, viciou-se em doramas e cultura coreana. O problema é o dorama? Não. Há milhares de coisas que podem ser esta distração: jogo, moda, filme, super-herói, iphone, influencer... A lista de coisas é imensa.

     O livro de Deuteronômio já alertava em seu capítulo 6 “[...] que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos [...] Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões” (Dt 6.6-9, NVI). O ensinamento-chave está no versículo anterior: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças” (Dt 6.5, NVI).

     Pergunte-se: no que teu filho tem tido mais prazer? O que você, pai e mãe, tem preferido fazer nas horas de lazer?

     A vigilância nunca será um excesso. E neste mundo frenético e tecnológico, estar atento é não menos que uma obrigação. Pais, observem todas as distrações de seus filhos, para que nem eles e nem nós percamos o amor pela Palavra e pelas coisas do céu. Afinal, são estas mesmas distrações que têm roubado nosso tempo...

Autora: Gabrielli Marina Lima Menezes. Pedagoga e advogada. Autora das obras “Prosa e poesia com as figuras de linguagem na Floresta Prosopopeia”, “A Fábrica da Felicidade: descobrindo o sistema” e “Meu irmãozinho nasceu e...”.

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PUBLICAÇÕES

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Fé em Crise:
A deserção espiritual de jovens cristãos e o desafio de reintegrar fé e razão

Isaias Lobão [1]

 

     João era o orgulho da pequena Igreja Assembleia de Deus onde crescera. Vivia em Oeiras, uma cidade tranquila do interior do Piauí. Participava ativamente do grupo de jovens e tocava violão nos cânticos congregacionais. Todos o conheciam por sua serenidade e fé sincera. Era inteligente e demonstrava curiosidade intelectual.[2]

     Quando recebeu a notícia de que fora aprovado em uma das universidades mais prestigiadas do país, a igreja celebrou como se ele mesmo fosse um missionário sendo enviado ao campo.

     Nos primeiros meses, tudo parecia bem. João participava de grupos de estudo, mantinha contato com sua igreja e tentava, ainda que timidamente, testemunhar de sua fé. Mas a rotina acadêmica, os novos amigos e o ambiente intelectual logo começaram a exercer uma pressão sutil, quase imperceptível.
     Em aulas de filosofia, ouviu que Deus era apenas uma construção social. Nas discussões sobre ética, aprendeu que a moral era relativa e fluida. E nas conversas com os colegas, ouvia-os zombar daqueles que ainda acreditavam em verdades absolutas. João tentou resistir, mas sentia-se cada vez mais deslocado — um estranho entre mentes “iluminadas”.
     O que começou como curiosidade tornou-se dúvida; o que era dúvida virou ceticismo; e o que era ceticismo, finalmente, tornou-se abandono. Um dia, ao visitar sua cidade natal nas férias, alguém lhe perguntou sobre a igreja. Ele sorriu de modo embaraçado e respondeu: “Ah, isso ficou para trás… hoje penso de outro modo.”
     A história de João, embora fictícia, reflete a de milhares de jovens cristãos. Ao ingressarem na universidade, muitos enfrentam uma deserção espiritual silenciosa. Perdem-se moral ou emocionalmente. Enfrentam também uma crise intelectual e teológica. Poucos foram preparados para confrontar o secularismo dominante. E quase nenhum compreendeu que a fé cristã não é inimiga da razão, mas sua redentora.

O secularismo como paradigma dominante na universidade moderna

     A universidade ocidental nasceu sob a luz da teologia. Durante séculos, o estudo de Deus era considerado o fundamento de todo conhecimento. As primeiras universidades europeias — Paris, Oxford e Bolonha — viam a teologia como a rainha das ciências, e todas as demais áreas do saber orbitavam ao redor dela.
     No entanto, com o advento do Iluminismo, iniciou-se um processo de deslocamento. A razão humana, antes subordinada à revelação, passou a reivindicar autonomia. O naturalismo metodológico substituiu a fé como princípio organizador do conhecimento. A ciência tornou-se autossuficiente e o sagrado, um vestígio do passado (TAYLOR, 2010).
     Esse movimento epistemológico ergueu uma nova cosmologia — sem transcendência, sem propósito e sem absolutos. O homem tornou-se a medida de todas as coisas. O resultado foi uma profunda transformação da universidade: de um espaço de busca pela verdade divina, tornou-se um laboratório de experimentação humana. Francis Schaeffer (2006) advertiu que essa mudança não eliminou a religião, mas apenas trocou seu objeto: o homem passou a adorar a si mesmo sob o disfarce da neutralidade científica.
     Charles Taylor (2010) descreve esse fenômeno como o surgimento de um “imaginário secular” — um modo de viver e pensar em que a presença de Deus já não é pressuposta, mas questionada. Não se trata apenas de rejeição explícita da fé, mas de uma nova atmosfera cultural. Nesse imaginário, a crença tornou-se uma opção entre muitas, e a descrença, o ponto de partida natural. A universidade moderna é, assim, o principal ambiente onde esse imaginário se reproduz, formando mentes moldadas pela imanência e pelo pragmatismo.
     Para o jovem cristão, esse contexto representa mais do que um desafio intelectual: é uma prova de fé. Ao ingressar na universidade, ele se depara com um mundo que parece não precisar de Deus. Cada aula, cada debate e cada leitura reforçam a ideia de que a fé pertence ao domínio do privado, enquanto o saber habita o espaço público. Se não estiver firmemente enraizado em uma cosmovisão cristã, ele tende a adotar a linguagem e os pressupostos do secularismo sem perceber. Assim, o que começa como uma tentativa de adaptação cultural pode se tornar, aos poucos, uma deserção espiritual.

A fragilidade apologética e teológica dos jovens cristãos

 

     Grande parte dos jovens cristãos chega à universidade sem preparo teológico. Foram formados em igrejas que valorizam a experiência acima da doutrina. Busca-se o impacto momentâneo, não a maturidade espiritual. Essa fragilidade nasce de uma formação eclesiástica pragmática, moldada por técnicas de sucesso e não pela solidez da Palavra.
     James I. Packer e Gary A. Parrett (2012) alertam que a perda da catequese criou uma geração de crentes desnutridos. Sem conhecimento, eles se tornam vulneráveis às pressões culturais. David F. Wells (2008) também denunciou esse problema. Para ele, o cristianismo contemporâneo perdeu a capacidade de pensar. Fala-se muito sobre Deus, mas conhece-se pouco a respeito de quem Ele é. A fé foi reduzida a slogans, e não a convicções. O resultado é uma geração que se emociona facilmente, mas se confunde diante do primeiro argumento cético.
     A ausência de fundamentos sólidos explica por que tantos jovens se afastam quando a fé é desafiada. Não sabem como responder. Não foram ensinados a articular o que creem e por que creem. A igreja, que deveria ser o espaço de formação integral, muitas vezes se limita a oferecer entretenimento religioso. O discipulado foi substituído por eventos. A mente cristã, que deveria ser moldada pela Escritura, foi deixada à deriva na cultura digital e no relativismo moral.
     Por isso, precisamos oferecer aos jovens um ensino bíblico profundo e consistente. Esse é um grande desafio, pois requer que a liderança também esteja bem preparada. Ninguém pode conduzir outros além do ponto em que já chegou. A formação sólida começa no púlpito e se estende à vida da igreja.
     Devemos unir fé e razão, devoção e clareza. No ambiente universitário, essa união se expressa como testemunho racional e confessional de que Cristo é o Senhor de toda verdade. O cristão defende a fé não por vaidade intelectual, mas por fidelidade ao Evangelho. Ele sabe que pensar bem é servir a Deus com a mente (Rm 12.2).

Conclusão

     A deserção espiritual de jovens cristãos na universidade é um sintoma de um problema mais profundo: a perda da integração entre fé e razão. Não basta lamentar o avanço do secularismo. É preciso preparar uma geração capaz de pensar teologicamente e viver piedosamente em meio a um mundo que rejeita a verdade. A formação espiritual sem base intelectual se mostra frágil; a formação intelectual sem piedade se torna estéril.
     David Wells (2008) denuncia que a teologia evangélica perdeu seu lugar no centro da vida cristã. O saber foi separado da santidade, e a verdade, da adoração. Recuperar essa unidade é o desafio urgente de nosso tempo. Precisamos de jovens que amem a Deus com o coração e com o intelecto, que possam dialogar com o mundo sem se render a ele.
     A universidade, outrora nascida do impulso cristão pelo saber, precisa novamente ouvir o eco das palavras do Senhor: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). O caminho para reverter a deserção espiritual não está na fuga do mundo, mas na restauração da mente cativa a Cristo e iluminada pela Palavra. Pensar é um ato de fé. E crer, um exercício da razão redimida.

Referências

SCHAEFFER, Francis A. Como viveremos? São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
TAYLOR, Charles. Uma Era Secular. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2010.
WELLS, David F. Sem lugar para a verdade: o que aconteceu com a teologia evangélica? São Paulo: Shedd Publicações, 2008.

[1]Autor: Isaias Lobão. Professor de história e teologia. Casado com Talita é pai da Ana Clara e do Daniel. Membro do INTESI, da World Reformed Fellowship e da Society of Biblical Literature. É presbiteriano. Gosta de pamonha e de ouvir música dos anos 70. E-mail: isaiaslobao@hotmail.com

[2]Todos os nomes e locais foram adaptados de histórias reais, entretanto, modifiquei vários detalhes para que não houvesse nenhum constrangimento entre os envolvidos.

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